domingo, 2 de novembro de 2008

A HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

“Árvores de murta”, eram assim chamados pelo Padre Antônio Vieira, os verdadeiros donos da terra até então pouco conhecida. Os indígenas foram assim denominados em comparação a árvore que precisava ser podada a todo momento. Os índios, segundo Vieira, eram rebeldes e não acatavam as coisas faladas pelos portugueses invasores da terra, ou seja, missionários e militares.
Portugal ameaçado pela França, ocupou o território chamado de Maranhão e ensaiou empreitadas rumo a Amazônia. Nesse contexto entra em cena Francisco Caldeira Castelo Branco, representante mandado por Portugal para “arrumar a casa” e expulsar os franceses dessas terras. A fundação da cidade de Belém baseou-se na escolha de um local estratégico ao longo do Rio-Mar, sendo escolhido a enseada que ficava de frente para a baía do Guajará, onde já haviam algumas tribos invadidas.
Era do interesse dos missionários converter os recém-conhecidos “gentios” de atitudes não civilizadas e pagãs. Nesse contexto, desenrola-se uma disputa de interesse entre civis e militares, e não demonstram nenhuma preocupação com os tais “gentios”. Com a cultura invadida, a sociedade indígena ficou fraca e sem reação ao desmesurado ímpeto português de colonização, que a princípio procuraram “amigavelmente” usar do conhecimento do índio na penetração das matas densas. A idéia dos colonizadores não era guerrear, pois os índios eram numerosos. Sua intenção foi adentrar em seus costumes conquistando através de “bugigangas” e “presentinhos”, em troca de favores. Portugal precisava conhecer rapidamente o local em que se encontrava e também a sua importância estratégica. Então se lançou ao Rio-Mar, sempre levando os “presentinhos” para conquistar os índios e logo em seguida catequizá-los, ocorreu um “cavalo de tróia” português para aqueles desajuizados cidadãos. Mesmo assim, os relatos de alguns documentos definem algumas tribos como mais aguerridas e mostram que o processo não era tão pacífico em alguns casos.
Entender o processo de expansão é verificar a disparidade com que as leis favoreciam os religiosos e civis promovendo embates com indígenas que já haviam sido enganados e agora eram escravos de Portugal e que resultaram em graves conseqüências para os dias atuais. Conforme notícia de lançamento do anuário 2008 de O Liberal datado do dia 10/09/2008 “existem aproximadamente 30.000 índios de 49 etnias, divididos em 67 reservas indígenas, o que representa 23% da área territorial paraense. Esses índios são assistidos por cinco administrações regionais da fundação nacional do índio (FUNAI), com sedes em Belém, Marabá, Altamira, Redenção e Itaituba, as quais trabalham no desenvolvimento das atividades produtivas, na fiscalização e demarcação de terras”. Como se pode observar, a população foi dizimada. Com a assistência dessas instituições pretende-se conter o avanço do extermínio da propriedade cultural mais antiga desse país, o índio.
Nessa época foi criada a “Junta de Missões” responsável por determinar onde seriam locados os serviços indígenas de escravidão. Numa análise rápida temos mais um instrumento de opressão ao indígena que cada vez mais ia se tornando indefeso ao poderio português. Eles sabiam que controlar o indígena era controlar a Amazônia. Cabia a “Junta” determinar o que deveria ser produzido e por qual raça indígena.
Os índios já estavam em bom número escravizados, e ter autoridades que os defendessem era um sonho utópico e irreal. Entende-se agora como e porque a população indígena vive assim nos dias atuais, os descasos se arrastam até os dias de hoje, e a precariedade, falta de prioridade é relatada no anuário lançado em O Liberal: “A educação e a saúde dos índios deixaram de ser incumbência da FUNAI deste 1991 – por determinação do então presidente Fernando Collor de Melo – passando a ser responsabilidade das secretarias estaduais de educação e da fundação nacional de saúde (FUNASA), respectivamente. No entanto, a FUNAI vem passando por alguns problemas ao longo dos anos por conta da falta de técnicos qualificados e de seu suscetivo sucateamento. Com uma precária estrutura para assistir 30.000 índios, a FUNAI vem testemunhando a destruição de grande parte das florestas.”
Não bastasse a omissão em defender os indígenas, a “Junta de Missões” além das responsabilidades de definir onde o índio iria usar sua força de trabalho também agia diretamente na sociedade indígena através de quatro situações: Tropas de resgate, descimentos, combate ao tráfico e o pedido de pazes. Tropas de resgate eram missões que adentravam as matas em busca de índios fugitivos que amarrados a cordas poderiam ser sacrificados em rituais antropofágicos por outras aldeias. Essas tropas faziam também guerras com outras aldeias, expandindo assim o território português. Haviam muitos índios escravizados, mas ainda restavam alguns a serem conquistados. Como os índios ocupavam uma grande área que usavam para caça, isso prejudicava qualquer tipo de tentativa colonizadora. Em virtude dessa situação, os missionários realizavam os “descimentos” para as aldeias missionárias, de onde filtravam as forças de trabalho.
O pedido de pazes, como o próprio nome sugere, se refere ao acordo solicitado pelos líderes das aldeias indígenas. Era uma forma de minimizar os ataques sobre suas comunidades sempre dotados de muita violência. Além de lutar contra os portugueses ainda havia as lutas entre as próprias tribos. Definitivamente estavam condenados a serem dizimados e sofrerem toda sorte de discriminações contra sua religião, cultura e leis, onde percebe-se uma tríplice norma ética da sociedade, quais sejam, Religião, Moral e Direito.
Apesar das instituições que zelam hoje pelos índios como a FUNAI, ainda existe o extermínio da cultura indígena. Mediante esse conhecimento da “Junta” a sorte era dada ao indígena, que podia ser incorporado pacificamente ou sentia o peso das armas.
Apesar de ser colocada uma “mordaça” sobre tais povos, ainda se tem de maneira longínqua o gritar de suas vozes pelos atos, não de rebeldia, mas sim de defesa daquilo que era deles. Tais índios ainda sofrem com a discriminação, precariedade de serviços, e extermínio de cultura. A cada dia que passa o homem “civilizado” invade mais e mais as terras indígenas, impondo sua cultura mecânica. Relata ainda O Liberal que: “novas influências que cercam as manifestações da cultura popular paraense podem ajudar a preservá-las ou desfigurá-las. (...) antropologia e folclore não analisados de maneira científica, incluindo a influência dos europeus e a presença dos índios com seus mitos e lendas, incorporados as próprias culturas locais. Segundo o professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) Ubiratã Rosário, as manifestações culturais estão sendo ameaçadas de extinção a cada dia. Ele cita no encarte que o carimbó tradicional, por exemplo, só pode ser visto no interior do Estado e que na capital a dança sofre uma carnavalização.”
Deve-se muito as nações indígenas em vários sentidos, como a língua, na medicina natural, na cultura, entre outros. Desta forma, é necessário encontrar uma forma justa que preserve o que restou dos verdadeiros habitantes da terra.

BIBLIOGRAFIA

RIBEIRO, T. C. . Como árvores de murta: os conflitos entre indígenas e europeus na Amazônia Colonial. In: Prof. Dra. Edilza Fontes. (Org.). Coleção Contando a História do Pará. Belém - PA: E.motion, 2003, v. Vol.1, p. -.

COLEÇÃO Pará anuário 2008. O Liberal, Belém, 10 de Set. 2008. Caderno Principal, Apresentação, p. 3.


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